Em condições fisiológicas, o organismo animal consegue manter a quantidade de glicose no sangue em nível suficiente para seu adequado funcionamento. Situações que cursam com hipoglicemia ou hiperglicemia podem provocar sérias complicações à saúde. Por isso, o monitoramento clínico em cães e gatos com o uso de glicosímetro é importante para detecção precoce de alterações da glicemia, sendo um importante instrumento para que decisões diagnósticas e terapêuticas sejam tomadas rapidamente. Porém, para que os resultados sejam confiáveis, alguns cuidados devem ser tomados.
Os glicosímetros digitais oferecem uma série de benefícios em relação aos analisadores laboratoriais, entre eles o fato de serem pequenos, portáteis, fáceis de manusear e exigirem uma pequena quantidade de sangue para se realizar o exame. Além disso, é uma opção aplicável para aferição de amostras lipêmicas, hemolisadas e ictéricas, as quais podem resultar em erros quando avaliadas pelo método laboratorial. No geral, a precisão desse equipamento depende não somente da sua performance, mas também da habilidade do operador e qualidade das tiras de teste.
Erros provocados pelo usuário são a primeira causa de falha na precisão dos resultados e para evita-los recomenda-se armazenar adequadamente as fitas reagentes e o aparelho, fazer a calibração do equipamento, colocar a quantidade correta de sangue na tira de teste e manter o aparelho sempre limpo. No local onde se deseja realizar a punção para a coleta da amostra, é preciso ter cuidado com a higiene, limpando a área com água e sabão ou solução de álcool a 70%.
O estresse no momento da coleta pode causar uma hiperglicemia transitória. Com o intuito de evitar esse quadro hiperglicêmico temporário, durante as coletas deve-se conter o animal com tranquilidade, manipulando a região da coleta com delicadeza e realizando o exame com rapidez. A cavidade absorvente da tira teste deve ser aproximada da gota para que o sangue seja automaticamente absorvido. A aplicação inapropriada da amostra de sangue pode interferir com a análise da glicose não sendo recomendado aplicar a gota de sangue na parte superior da tira.
Anormalidades no hematócrito do paciente submetido ao exame de glicose podem afetar o resultado do glicosímetro. Hematócritos abaixo de 30% levam a resultados falsamente elevados, enquanto que hematócritos maiores de 55% podem ocasionar resultados equivocadamente baixos e, conseqüentemente, os clínicos devem ter cuidado ao interpretar os resultados em animais com anemia ou policitemia. A diferença entre os valores do glicosímetro e pelo método laboratorial pode ocorrer devido ao tempo entre a coleta e a análise, pois os eritrócitos metabolizam glicose, o que pode acarretar no decréscimo da concentração da glicose na amostra.
Conclui-se que vários fatores podem interferir na dosagem de glicose. Os resultados alcançados nessas situações não são precisos e o teste deve ser repetido. É importante seguir todas as recomendações do fabricante buscando minimizar os erros para garantir confiabilidade no monitoramento clínico e aumentar a acurácia dos resultados.
REFERÊNCIAS:
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