As espécies de micoplasma felino atualmente reconhecidas variam em patogenicidade, com alguns isolados induzindo consistentemente anemia hemolítica, enquanto outros resultam em poucos sinais clínicos perceptíveis. Nos felinos, quatro espécies principais causam a infecção e são Mycoplasma haemofelis, Candidatus Mycoplasma haemominutum, Candidatus Mycoplasma turicensis e Candidatus Mycoplasma haematoparvum (Tasker et al., 2003). Mycoplasma haemocanis e candidatus Mycoplasma hematoparvam são as duas espécies de micoplasmas em cães que têm afinidade com os eritrócitos. Este foi previamente classificado como uma espécie de Haemobartonella, e recentemente foi posicionado dentro do gênero Mycoplasma pela análise 16S rRNA (Messick, 2004).
Epidemiologia
Gatos adultos são mais propensos à infecção do que os jovens, uma vez que o animal está infectado, é difícil eliminar o organismo mesmo após prolongadas terapias com antibióticos. O animal pode atuar como um transportador assintomático. Há relatos que os gatos machos são mais propensos a contrair a infecção devido ao comportamento de combate, sendo que os ferimentos de combate são considerados a principal fonte de transmissão. Casos clínicos de micoplasmose em cães foram ocasionalmente relatados, mas cofatores como esplenectomia, imunossupressão ou infecções concomitantes parecem desempenhar um papel na patogênese.
Transmissão
A pulga do gato Ctenocephalides felis foi incriminada na transmissão de micoplasmose entre gatos (Woods et al., 2005). O carrapato do cão Rhipicephalus sanguineus, foi vetor proposto para micoplasmas caninos (Roura et al., 2010). A transmissão transestadial e transovariana em carrapatos também foi descrita, indicando que o carrapato pode ser um reservatório importante e também um vetor de infecção.
Transfusões de sangue causam infecção (Willi et al., 2007) também foram relatadas. O uso de sangue recém-coletado de um doador infectado com micoplasma para transfusão, resultaria muito provavelmente na transmissão da infecção ao gato receptor.
Outros modos possíveis de transmissão do micoplasma incluem a transmissão vertical da mãe para os filhotes durante a gestação, e no nascimento ou durante a lactação. Embora não seja relatada, a transmissão também pode ser possível pelo uso de comedouros de uso coletivo ou pelo compartilhamento de equipamentos (por exemplo, instrumentos cirúrgicos) em diferentes animais sem limpeza / esterilização adequada, principalmente se a contaminação sanguínea for significativa e apenas um curto período de tempo for decorrido entre os consecutivos procedimentos (Tasker, 2010).
Patogênese
A anemia hemolítica é o efeito patogênico mais significativo no caso desta doença; acredita-se que a maior parte da hemólise associada à infecção por micoplasma seja de natureza extravascular, ocorrendo principalmente no baço e no fígado, mas também nos pulmões e medula óssea. A hemólise intravascular também foi relatada, assim como o aumento da fragilidade osmótica dos eritrócitos infectados por micoplasma. Testes positivos de Coombs e autoaglutinação, indicam a presença de anticorpos ligados a eritrócitos. Tais anticorpos ligados aos eritrócitos podem ser responsáveis pela destruição mediada por imunidade dos eritrócitos. A gravidade da doença produzida por M. haemofelis varia, em anemia leve e sem sinais clínicos e casos de felinos com depressão acentuada e anemia grave levando à morte. Alguns danos aos eritrócitos podem ser causados diretamente pelo organismo, mas a lesão mediada pelo sistema imunológico parece ser mais importante. Outro mecanismo possível de lesão imunomediada também deve ser considerado. Se ocorrer a fixação do complemento mediada por anticorpos, a membrana eritrocítica pode ser danificada como um “espectador inocente”. A anemia ocorre principalmente como resultado de eritrofagocitose extravascular por macrófagos no baço, fígado, pulmões e medula óssea (Messick, 2004).
Sinais clínicos
A doença foi dividida em quatro fases, pré-parasitêmica, aguda, recuperação e portador. A fase pré-parasitêmica é geralmente cerca de uma a três semanas após a injeção intravenosa. A fase aguda da doença representa o tempo desde a primeira até a última maior parasitemia. Os organismos geralmente aparecem no sangue de maneira cíclica dentro de episódios parasitêmicos discretos. O número de organismos geralmente aumenta para um valor máximo em um a cinco dias, seguido por um rápido declínio. Episódios parasitêmicos repetitivos parecem causar dano progressivo aos eritrócitos e menor tempo de vida úti. Os sinais clínicos da infecção por micoplasma dependem de fatores como as espécies envolvidas, estágio da infecção e presença de infecções concomitantes. Sinais comuns exibidos são palidez, letargia, anorexia, perda de peso, depressão e desidratação. A hipertermia intermitente é frequentemente observada, particularmente nos estágios agudos da doença, assim como a esplenomegalia, que pode refletir hematopoiese extramedular. A icterícia é incomum, a menos que ocorra hemólise aguda grave.
Diagnóstico
O exame microscópico dos esfregaços de sangue é a maneira mais comum de detectar micoplasmas. A observação microscópica demonstra bactérias isoladas, pares ou cadeias na superfície dos eritrócitos. A chance de obter resultados falsos negativos é maior neste caso, e sedimentos de corantes podem ser confundidos com as bactérias. Junto com isso, os corpúsculos de Howell-Jolly também podem ser confundidos. Portanto, a especificidade do exame de esfregaço sanguíneo é baixa, mas pode ser usada como uma ferramenta para a triagem primária. Além disso, a citologia não pode diferenciar entre espécies de micoplasma.
A reação em cadeia da polimerase (PCR) amplifica comprimentos específicos de DNA, de modo que quantidades potencialmente minúsculas de DNA nas amostras sejam detectáveis. Sabe-se que a reação em cadeia da polimerase é mais sensível que a citologia para detecção de micoplasma. Tem potencial para diferenciar as espécies de micoplasmas e os ensaios são baseados na amplificação de segmentos do gene 16S rRNA do micoplasma (Ghazisaeedi et al., 2014).
Prevenção e controle
O controle dos ectoparasitas deve ser o objetivo principal, recomenda-se a limpeza e o uso regular de ectoparasiticidas. Reduzir o acesso a ar livre para gatos, pois podem induzir a ferimentos de luta com outros animais. Os doadores de sangue devem ser rastreados usando ensaios de DNA baseados em PCR para impedir a transmissão aos receptores de transfusão. A transmissão iatrogênica pode ser evitada usando agulhas e equipamentos adequadamente esterilizados. Recomenda-se o controle de vetores de artrópodes, assim como minimizar o estresse em gatis.
Fonte: Ameldev P. & Tresamol P.V. Hemotropic Mycoplasmosis – Emerging Cause of Infectious Anaemia in Dogs and Cats. International Journal of Current Microbiology and Applied Sciences ISSN: 2319-7706 Volume 7 Number 01 (2018)